sábado, 29 de setembro de 2012

O Pracaxi

Meus amigos o Brasil começa a conhecer o óleo de pracaxi

 http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/biodiversa/pracaxi-da-adeuzinho-as-estrias/

Pracaxi dá adeusinho às estriasLiana John - 27/09/2012 às 17:57

A safona do engorda-emagrece mais cedo ou mais trade deixa seu rastro de marcas nos bumbuns, seios, barrigas, pernas e braços da nação. As famigeradasestrias não perdoam quem tem tendência hereditária ou simples má sorte com a elasticidade da pele. E, embora afetem mais as mulheres, também castigam os homens.
Para complicar a vida de quem quer exibir decotes, regatas, alcinhas, shorts e minissaias, a grande maioria dos cosméticos são preventivos: uma vez instaladas, as tais marcas já não têm remédio à base de creminhos. Só mesmo cirurgias, lasers e demais intervenções radicais.
Pois estas “verdades universais” podem ser abaladas pelo óleo de uma árvore amazônica, chamada pracaxi (Pentaclethra macroloba) ou pracachy, na versão conhecida no exterior. Trata-se de uma Fabaceae (antes chamada deleguminosa, por ter os frutos em forma de vagens) de até 14 metros de altura, geralmente encontrada nas várzeas inundáveis, desde a Nicarágua até aAmazônia brasileira.
A safra ocorre nos meses de fevereiro e março, quando as favas de 20 a 25 centímetros são coletadas nas praias e nas margens dos rios. Cada fava tem 4 a 8 sementes, de onde o óleo é extraído após cozimento e maceração. Entre osácidos graxos presentes no óleo estão o láurico e o mirístico, também encontrados no murumuru (veja o texto “Murumuru, a proteção que respira”, postado no dia 6/9/2012, aqui no Biodiversa); o linoleico, presente no abacate; e, o mais importante, uma alta concentração de ácido beênico, responsável pelahidratação profunda da pele.
O ácido beênico é encontrado no amendoim (cujo aroma parece com o do pracaxi), na colza e nas sementes de acácia-branca e já é utilizado pela indústria cosmética como alisante, em condicionadores e hidratantes para cabelo. Mas a concentração desse ácido graxo raro no pracaxi é bem maior, daí seu potencial em cremes e hidratantes para o tratamento – e não só prevenção – de estrias.
“O óleo de pracaxi está se transformando em um produto cosmético fantástico, capaz de reverter estrias”, afirma o químico Luiz Moraes, diretor da Amazon Oil, empresa sediada em Ananindeua, no Pará. Ele faz questão de dizer que trabalha “de braços dados com a academia” e colabora fornecendo amostras para “qualquer instituição que bata à porta”, com o objetivo de desenvolver novos produtos e nichos de mercado para os óleos amazônicos.
“Esses óleos dependem do mercado para que haja um fluxo de colheita e a certeza de comercialização”, continua Moraes. “Moro na Ilha de Marajó e minha empresa é de amazônidas: sei o que acontece com os povos da floresta quando seus produtos não são comercializados. Quem sente é quem está na floresta”.
“Nosso principal gargalo chama-se demanda”, continua ele. “A indústria ainda não acredita que esses produtos oriundos da floresta possam ter qualidade, com continuidade de oferta e preço estável”. Quem sabe no caso do pracaxi o gargalo se desfaça. Estrias é que não faltam para garantir a demanda!
Fotos: Luiz Moraes/Amazon Oil (árvore de pracaxi com favas, ao alto, e sementes secas)
 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Muru-Muru, a proteção que respira


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Murumuru, a proteção que respiraLiana John - 06/09/2012 às 02:53


Junto aos xampus e condicionadores, nas prateleiras de supermercados, hoje é fácil encontrar pequenos frascos contendo um óleo transparente: o reparador das pontas dos cabelos. Feito à base de silicone, um derivado de petróleo, esse oleozinho forma uma camada protetora nos fios, cuja função é minimizar os danos causados por poluiçãopoeira, excesso de sol e outras agressões cotidianas. O “escudo” milimétrico realmente protege os cabelos, talvez até demais, pois não deixa nem o ar passar.
Como o reparador de pontas, existem também diversos produtos cosméticos à base de silicone para a pele. Igualmente eficientes e superprotetores.
Todos esses produtos têm um substituto vegetal, oriundo lá da Amazôniaprofunda, como se costuma chamar a porção mais interior da grande floresta. Nas várzeas e matas periodicamente alagadas (igapós) – notadamente da Ilha de Marajó e do vale do Juruá, entre o Acre e o Amazonas – cresce uma palmeira cheia de espinhos conhecida como murumuru (Astrocaryum murumuru). Dela se extrai uma manteiga com as mesmas propriedades protetoras do silicone. “A diferença é que o murumuru permite a respiração”, afirma o químico Luiz Morais, proprietário da empresa Amazon Oil, sediada em Ananindeua, no Pará.
Quando pequeno, em Marajó, Morais sempre via a avó preparar o sabão de murumuru com casca de cacau: primeiro ela moía tudo no pilão, depois fervia com água e separava o óleo na superfície da panela. “Na época da minha avó, só rico é que tinha xampu. O resto lavava os cabelos com sabão feito em casa, mas antes passava o óleo de murumuru para ficarem sedosos e brilhantes”, lembra. Mal sabia ele, então, que acabaria estudando as propriedades químicas dos produtos da floresta e passaria a beneficiar seus óleos para comercializá-los em todo o país e no Exterior.
Em especial, segundo ele, o murumuru contém alto teor de dois ácidos graxos saturados de cadeia curta – o láurico (44%) e o mirístico (30%) – ambos importantes para a proteção da pele e dos cabelos. A gordura desse coquinho também é branca, inodora e não fica rança com facilidade, de encomenda, portanto, para uso industrial. Sem contar o detalhe do ponto de fusão (32,5 graus centígrados), superior ao do dendê (25 graus centígrados) e do coco (22,5 graus centígrados), uma vantagem na produção de sabonetes e cremes.
Os produtos à base de murumuru são nutritivosemolienteshidratantes eantioxidantes. “E os xampus têm a propriedade de clarear os cabelos naturalmente”, acrescenta o empresário. Além de fornecer a manteiga a indústrias cosméticas, ele também a vende como alimento funcional (antioxidante sólido), para a fabricação de substitutos de margarina, e como matéria primafarmacêutica, para servir como veículo de supositórios.
E não é só isso: diversos pesquisadores testam o óleo de murumuru comobiocombustível ou na alimentação de pequenas usinas térmicas. Este foi o caso de um experimento realizado em 2008 pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com a Eletronorte, para gerar eletricidade em comunidades isoladas do vale do Juruá. O processo usado foi o de gaseificação do óleo vegetal, desenvolvido pelo engenheiro mecânico da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Gurgel Veras. A mini usina também pode ser alimentada com resíduos de madeira, sementes de açaí, cascas de babaçu e outros subprodutos do extrativismo disponíveis.
E pensar que para muitos ribeirinhos a palmeira do murumuru costumava ser um estorvo, por causa dos espinhos… Quem sabe um dia a planta venha a ser domesticada e os melhoramentos incluam a produção de variedades sem espinho. Mercado para isso existe, já que não nos faltam poluentes e agentes externos para estragar pele e cabelos!

Foto: Liana John (coquinhos de murumuru/Médio Juruá, AM)
http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/biodiversa/murumuru-a-protecao-que-respira/