Por Luiz
Morais
Nascido e
criado na Amazônia, sempre estive ás voltas com questões florestais e de
preservação.
Minha
infância foi marcada pelos conhecimentos e ensinamentos de minha saudosa avó,
que curava todos os males com produtos da floresta, tirava óleo de qualquer
coisa, e quase sempre tinha resultados fantásticos.
Vejam a
aplicação de uma mistura de óleos em um pé com escamação seca, não sei o que é,
só sei que a aplicação da mistura levou a resultados surpreendentes em 4 dias,
vejam as fotos. As escamações não coçam, não tem mau cheiro, o pé chega ferir,
devido a escamação, ai dói. Se algum dermatologista quiser ajudar ou pesquisar
a respeito é só entrar em contato comigo.
Pé esquerdo antes do tratamento |
Pé esquerdo - com 4 aplicações (uma por dia) |
Pé direito tratado - 20 aplicações (uma por dia) |
Vejam que
as fotos falam por si só, ai eu pergunto uma mistura de óleos amazônicos como a
que foi aplicada tem este resultado por quê? Desenvolver produtos com
amazônicos não madeireiros, não é só uma questão de geração de renda e
preservação, mas também de humanidade, quantas pessoas não padecem com este
tipo de problema.
Vendo
noticias sobre a importância de pesquisas na Amazônia me pergunto o que fizemos
nos últimos 100 anos em relação ao aproveitamento dos produtos florestais não
madeireiros. Fora a borracha, castanha, copaíba e cumaru, o que mais extraímos
da floresta que tenha papel importante na nossa economia? Produtos como copaíba
e cumaru são utilizados no exterior, e sabemos superficialmente que são aplicados como
aromatizadores, o que eu não acredito que seja só isso, penso que existe pesquisa que podem dar
origem a produtos que vão de fármacos a produtos de química fina, e que são
mantidos em segredo, o que acho justo, pois se não temos competência, seja ela
técnica ou de gestão, para fazer nossas próprias descobertas, não podemos
exigir que os outros nos deem de "mão beijada" as suas. Eles já
compram e pagam pelos produtos de forma legal, o que gera preservação na
floresta.
Parece
que foi ontem, 1982, que cheio de sonhos e encantos consegui passar no
vestibular para Eng. Química na UFPa, vindo de escolas publicas, fui aprovado
sem a necessidade de cotas, o que na época não existia, quem tinha competência
se qualificava, nos pobres não tínhamos que passar atestado de burrice para
entrar na universidade, como agora com esta historia de cotas, não fui exceção, quase todos
os meus colegas de turma passaram também, não no mesmo ano que eu mas
conseguiram também, mas isso é outra historia. O que meu preocupa hoje é que
eu com 51 anos pouco fiz, criei o meu primeiro projeto de aproveitamento de não
madeireiros em 1994, que se transformou na Brasmazon no estado do Amapá, hoje
Beraca em Ananindeua no Pará, penso que foi uma das minhas pequenas vitórias, edificar
um projeto, hoje vitorioso, tocado por um grande grupo econômico que ajuda a
colocar produtos florestais não madeireiros no mercado internacional com grande
repercussão positiva. O que temos de conhecimento tradicional, como os
repassados pela minha avó, se perdem com grande velocidade, os jovens não veem
nas profissões de erveira ou bezendeira grande futuro, em um mundo que se
comunica a velocidade de 3G ou 4G. Desta forma teremos que partir do zero, as
observações que geram aplicações empíricas estão fadadas ao esquecimento.
Uma das
grandes vitórias que consegui nestes 33 anos de atividades de pesquisa, foi
lançar o óleo de pracaxi, que com certeza evitara que o espécime seja extinto,
uma vez que era voz corrente na várzea e igapós que pracaxizeiro tira a
"força do açaí" então bastava "anelar" o pracaxizeiro para
que ele morra e vire lenha, o espécime foi totalmente dizimado na foz do rio
Amazonas e arquipélago do Marajó, hoje existem poucas áreas onde há densidade elevada de indivíduos botânicos adultos produtivos, hoje já sou procurado para compra de sementes
para mudas por vários viveiristas e até mesmo fazendeiros para recuperação de
pastos, e prefeituras para arborização de vias. Os resultados das aplicabilidades
do óleo de pracaxi são surpreendentes, recebo e-mails do mundo todo, querendo
comprar e contando os resultados de sua utilização, no Brasil a Loreal
aplica nos cabelos, minha avó utilizava contra erisipela e marcas em
mulheres "paridas" que hoje conhecemos como estria, queimaduras e
"feridas brabas", e nossa indústria, farmacêutica e cosmética é lenta para tomar decisões no ramo de P&D, e as universidades com todas as
suas dificuldades iniciam as suas investigações, porem longe da indústria,isso
me preocupa. No ramo das oleaginosas, pouco ou quase nada se fez em função do
grande volume de espécimes existentes, alguns únicos no planeta. A maioria dos trabalhos
sobre oleaginosas, são de caracterização, de identificação e quantificação de
insaponificáveis, são quase nada, as propriedades dos óleos aplicados na pele em
função de sua composição graxa absolutamente nem um estudo conclusivo, a indústria que faz não publica,
cria produto com outro nome para não valorizar o espécime. Fica mais fácil para
a indústria vender o marketing de utilização de não madeireiros amazônicos, que
na realidade são utilizados em doses homeopáticas, o que não gera preservação,
esquecendo que o que esta em jogo e a manutenção desta imensa floresta, que tem
papel fundamental na sobrevivência da raça humana.