Apenas algumas observações superficiais, da floresta ou dos hábitos do seu povo, poderiam levar a solução de alguns problemas, descobri que o termo utilizado para esta forma de resolver problemas chama-se biomimética. A minha preocupação é saber o que o povo da floresta e a floresta vão lucrar com isso. Penso que o simples fato de desenvolver produtos, e apoiar os povos da floresta para que forneçam matéria prima extrativista ou adquiram a produção de prováveis domesticações de espécimes interessantes, já é uma forma de gerar algum ganho para a floresta como um todo. Não, somente na forma de dinheiro na mão do povo da floresta, o povo do mato, como gosto de chamar, não quer um forno de micro-ondas na sua cozinha, quer escola de qualidade, hospital e ter os seus direitos de cidadão garantidos, não quer ser lembrado pelo estado, só quando pratica um delito, quer se sentir parte dele. Desta forma conclamo pesquisadores de todas as áreas a participarem desta nova forma de aproveitar a natureza, antes que "algum aventureiro o faça" e mais uma vez fiquemos vendo a "banda passar", e lastimando nos poderíamos ter feito isso.
Vale a pena ler a reportagem da FAPESP aqui reproduzida.
Um grande abraço a todos.
Fonte: http://agencia.fapesp.br/17133
Em evento
realizado pela FAPESP e Natura, a bióloga norte-americana Janine Benyus falou
sobre como a biomimética pode ajudar a superar desafios globais e tornar
empresas e cidades mais sustentáveis (Wikimedia)
Produtos
inspirados pela natureza dobram a cada ano no mercado
16/04/2013
Por Karina Toledo
Agência FAPESP – A planta de lótus (Nelumbo
nucifera) virou símbolo de pureza espiritual por sua capacidade de se
manter impecavelmente limpa apesar do ambiente lamacento em que vive. Tal
façanha pode ser explicada pela presença de nanocristais de cera na superfície
de suas folhas capazes de repelir a água de maneira muito eficaz. As gotas que
ali caem assumem uma forma quase perfeitamente esférica, deslizam com
facilidade e levam consigo a sujeira e os microrganismos.
Tal fenômeno, batizado pelos
cientistas de “efeito lótus”, serviu de inspiração para o desenvolvimento de
tintas, vidros e tecidos autolimpantes, que dispensam o uso de detergentes,
além de equipamentos eletrônicos à prova d’água.
Já a superfície única da pele do
tubarão de galápagos (Carcharhinus galapagensis), repleta de minúsculas
protuberâncias que funcionam como um repelente natural de bactérias, inspirou o
desenvolvimento de biofilmes para revestir camas hospitalares, entre outras
aplicações.
Esses e outros exemplos de
tecnologias inspiradas pela natureza foram apresentados pela bióloga norte-americana
Janine Benyus durante o Simpósio Internacional Biomimética & Ecodesign,
realizado pela FAPESP e pela Natura no dia 11 de abril.
Benyus é pioneira em um campo de
pesquisa emergente, a biomimética, que propõe aos cientistas usar a
biodiversidade não como fonte de matéria-prima para a indústria, mas como fonte
de ideias para o design e o desenvolvimento de produtos e de sistemas.
“O número de produtos inspirados
pela natureza dobra a cada ano no mercado e o número de publicações científicas
na área duplica a cada dois ou três anos. É um campo do conhecimento que cresce
muito rapidamente”, contou Benyus.
Durante a palestra, a bióloga
mostrou de que forma a biomimética pode ajudar a superar desafios globais, como
garantir o acesso à água potável, à alimentação e à energia, além de reduzir as
emissões de carbono. Entre os casos citados, está um dispositivo capaz de
capturar a umidade do ar e usá-la para irrigar plantações de forma dez
vezes mais eficiente que as redes coletoras de neblina tradicionais.
O autor original da ideia é o
besouro da Namíbia (Stenocara gracilipes), morador de áreas
desérticas que, durante a madrugada, coleta o sereno com a ajuda de microcanais
na superfície de seu corpo feitos de materiais hidrofóbicos (como as folhas de lótus)
e hidrofílicos (que, ao contrário, atraem a água). As microgotículas
fluem pelos microcanais do dorso e unem-se para formar gotas
grandes, que chegam até a boca do animal.
“Existem duas formas de fazer
biomimética. Uma delas é partir de um desafio de design e buscar um modelo
biológico capaz de realizar aquela função que você precisa. A outra é observar
um fenômeno interessante do mundo natural e procurar aplicações para ele”,
afirmou Benyus.
O princípio não serve apenas para
o desenvolvimento de produtos. Pode inspirar, por exemplo, o planejamento de
cidades sustentáveis, que funcionem como um ecossistema natural. “Ecossistemas
naturais, como as florestas tropicais, são generosos. Limpam o ar, limpam a
água, fertilizam o solo. Produzem serviços que beneficiam também outros
habitats. É isso que as cidades deveriam fazer”, opinou.
Construir pontes
Antes de trabalhar como
consultora de empresas interessadas em encontrar soluções para criar produtos
sustentáveis, Benyus era escritora de livros de história natural.
“Como bióloga, eu via muitos
pesquisadores estudando como as folhas fazem fotossíntese e como os
ecossistemas trabalham tão bem em conjunto. Por outro lado, havia um interesse
crescente das empresas por soluções mais sustentáveis. Mas os designers
não enxergavam as pesquisas produzidas pelos biólogos. Era preciso
construir uma ponte entre eles”, contou em entrevista à Agência FAPESP.
Há 15 anos, Benyus publicou o
livro Biomimicry: Innovation Inspired by Nature, no qual reuniu diversas
pesquisas sobre o tema e introduziu o termo “Biomimética”. Desde então, além de
prestar consultoria empresarial, a americana oferece um serviço sem fins
lucrativos para instituições acadêmicas e cursos de especialização para
biólogos, químicos, engenheiros, arquitetos e demais cientistas interessados em
se aprofundar no tema. Todos os serviços estão reunidos no Instituto Biomimicry 3.8.
Benyus também mantém o portal Ask Nature , que
reúne um enorme banco de dados taxonômicos e permite aos pesquisadores
interessados em biomimética realizar gratuitamente buscas de estratégias do
mundo natural para lidar com um determinado desafio.
“Tudo que os organismos naturais
fazem para saciar suas necessidades – comer, respirar, acasalar – contribui de
alguma forma para a fertilidade do habitat em que vivem. Os dejetos dos animais
adubam o solo, o dióxido de carbono que expiram é usado pelas plantas na
fotossíntese. A vida criou um sistema generoso e essa é a razão pela qual esse
material genético existe há 10 mil gerações. A única forma de garantir o futuro
de nossos filhos, netos e bisnetos é cuidar do lugar em que vão viver. Tem de
aprender a ser generoso. É o que a vida faz”, defendeu.
Design sustentável
Ainda durante o Simpósio
Internacional Biomimética & Ecodesign, Tim McAloone, professor do
Departamento de Engenharia Mecânica da Danmarks Tekniske Universitet, na
Dinamarca, falou sobre outra estratégia que permite às empresas criarem
processos e produtos ambientalmente adequados: o ecodesign.
“Design para o ambiente é um
conceito que permeia todas as fases do ciclo de vida de um produto, desde a
escolha do material, do processo de manufatura e dos meios de transporte,até
a distribuição e o descarte”, explicou.
Como exemplo, citou uma
cadeira de escritório desenvolvida pela empresa americana Steelcase. Com um
número menor de peças e materiais diferenciados, foi possível reduzir
15% o peso de transporte e o volume, além de tornar o processo de reciclagem
mais fácil e de aumentar a durabilidade.
Além de apresentar aos cientistas
critérios-chave para o design sustentável, McAloone falou sobre meios para
implantar essa forma de planejamento nas organizações e divulgou um guia
gratuito para o desenvolvimento de produtos disponível para download no site: www.kp.mek.dtu.dk/Forskning/omraader/ecodesign/guide.aspx.
Parceria
Na abertura do simpósio, o diretor
de Ciência e Tecnologia da Natura, Vitor Fernandes, afirmou que o objetivo do
evento era unir dois temas considerados pela empresa “bastante complementares”.
“Queremos discutir com a comunidade científica de que forma isso pode ser
aprofundado, expandido e gerar valor para a sociedade, as empresas e a
ciência”, disse.
O diretor científico da FAPESP,
Carlos Henrique de Brito Cruz, ressaltou que a parceria com a Natura faz parte
dos esforços da FAPESP para promover a interação entre pesquisadores de instituições
acadêmicas paulistas e aqueles que atuam em empresas.
“No Estado de São Paulo existe um
grau de interação entre empresa e universidade comparável ao de qualquer lugar
do mundo onde há boas pesquisas e boa ciência”, disse Brito Cruz.
Segundo dados da National Science
Foundation, em 2010, aproximadamente 6% do dinheiro investido em pesquisa nas
universidades norte-americanas veio de empresas. “Na Europa esse percentual
varia entre 3% e 10%. Em universidades paulistas, como USP, Unesp e Unicamp, está
entre 5% e 10%. São percentuais comparáveis em termos de volume de recursos e
de quantidade de projetos”, disse Brito Cruz.
Mas, para que a parceria dê certo, ponderou o
diretor científico da FAPESP, é preciso que a empresa tenha sua própria
atividade de pesquisa. “Assim conseguirá perceber onde precisa de ajuda e
montar uma pauta de pesquisa. A colaboração com a universidade não substitui a
pesquisa interna da empresa”, destacou.
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